terça-feira, 13 de julho de 2010

Entre os 11 e 14 anos de idade percorria todos os dias o mesmo caminho para voltar da escola.
Lembro de cada detalhe... dos amigos que me acompanhavam nesse percurso, dos dias de chuva, dos dias de sol e das pessoas que eu não conhecia, mas fizeram parte deste pedacinho da minha vida, pois, naquele momento, nossas vidas se encontravam...
Lembro particularmente de um senhor de estatura muito baixa, franzino, de bigode, tinha um aspecto saudável, sempre sério, solitário, sentado na sacada de sua casa com um rádio portátil do seu lado. Ele não era bonito e a sua corcunda não me assustava. No entanto, aquele ritual praticado todos os dias chamava a nossa atenção e, nas raras vezes que ele não estava lá, meus amigos e eu ficávamos nos perguntando se ele adoeceu, o que tivera ocorrido para ele ter se ausentado? Afinal, era como se tivéssemos um encontro marcado. E neste momento, tínhamos a missão de desvendar a mente daquele homem.
Ele nunca nos olhou, seu olhar parecia ser sempre fixo para dentro de si mesmo. Filhos, netos, irmãos? Não sabíamos se ele tinha. As vezes eu o achava muito sozinho, outrora eu achava que aquele era o momento dele conversar com DEUS.
De certo, ele era um homem misterioso, seu semblante nunca expressou qualquer emoção, nunca o vi cumprimentar as pessoas que passavam pela rua, tão pouco sorrir para alguém. Além da imagem dele sentado na sacada de casa, me recordo das poucas vezes que o víamos varrendo a calçada quando estávamos indo para a escola.
Quando terminei o ginásio, fui estudar longe de casa, o trajeto não era mais o mesmo, e as poucas vezes que passava em frente a casa daquele misterioso homem, nunca o via. Sempre me perguntei se ele ainda estava vivo, se ainda ficava o mesmo horário naquele mesmo local... e hoje, quando passava por lá, o vi varrendo a calçada de sua casa. Era o mesmo de sempre! Não parecia ter envelhecido nadinha...  sua imagem sempre séria, mas sem expressar qualquer sentimentos...
Parece bobagem e até mesmo loucura, mas senti um alívio no peito, uma tranquilidade por ele ainda estar ali... foi como se ainda um pedacinho da minha vida vivesse.
Provavelmente nunca nos falaremos, com certeza ele não se recorda de mim, mas, por um momento, a existência de alguém "des"conhecido alegrou o meu coração.




Nenhum comentário:

Postar um comentário