quinta-feira, 21 de abril de 2011

Chuva

Quando eu era pequena, ao passar pelo bairro da Calçada a noite sempre via muitas pessoas dormindo em baixo de marquises. Eram adultos, crianças, velhos; gente de fora que vinham procurar trabalho na capital; drogados também; ainda tinha aqueles que, por "N's" motivos, preferiam morar nas ruas de Salvador, que morar com suas famílias. Me perguntava sempre para onde eles iriam quando o inverno chegasse.

Vovô morava há poucos metros da Calçada, logo ali na Rua Henrique Dias. Me recordo que todas vez que chovia e íamos para casa de vovô estava tudo alagado, a água não tinha para onde escoar. Aqueles moradores de rua, o que eles fariam???

Toda minha vida tive medo de trovoada e relâmpago. Cobria espelhos e morria de medo de sair debaixo de chuva. Primeiro: porque eu achava que aqueles cabos do guarda chuva iriam atrair raios e, segundo: porque aqueles estrondos e clarões vindos do céu me deixavam de pernas bamba. Então, o lugar mais seguro, era a minha cama, debaixo das cobertas. Daí, dava uma dó em pensar que nos dias de chuva eles estariam tão expostos...

Por que eles não tinham casa? 
Poderiam me dar milhões de respostas, nenhuma deles me convencia. Eu achava DEUS injusto. Não achava correto ele ter o maio poder do mundo, criar homens e animais, e não criar uma casinha para eles. Era castigo? Se fosse era um castigo muito perverso, pensava eu.

Eu gostava de dormir ouvindo o som da chuva, sentindo o cheirinho de terra molhada... Em minhas orações, antes de dormir, eu pedia ao papai do céu para que chovesse um pouquinho naquela noite. Mas de imediato eu reformulava o pedido. Eu lembrava daqueles que estavam lá na Calçada, me achava egoísta, então pedia que chovesse, pouco, e só no telhado da minha casa.

Hoje eu vejo que os tempos de chuva são mais cruéis do que eu imaginava na minha infância. Sofrem aqueles que não tem casa e aqueles que as têm. E, em algumas horas de chuva, as pessoas perdem tudo aquilo que adquiriram com tanto esforço. Perdem móveis, roupas, bens. Perdem casas. Perdem pessoas. Perdem a própria vida.

Não, não culpo mais DEUS. Sei que muitas vezes o próprio homem é culpado. As pessoas jogam lixo nas ruas, o governo não faz sua parte, as pessoas constroem casas em encostas porque não têm outro lugar para ir, o dinheiro é pouco, ninguém fiscaliza nada... são inúmeros fatores que contribuem para a chuva vir tão devastadora.

Seria injusto demais culpar a DEUS por tudo isso. 


Mas, às vezes, aquela criança, ainda invade o meu ser, e num ato de inocência, fico a me questionar: por que DEUS não impede?
















Um comentário:

  1. O homem se apoderou do poder que Deus lhe deu, o direito de escolher, o livre arbítrio, e disso fez sua arma.
    Justifica os atos com esses direitos, e o faz sem pensar no outro.
    Quanta coisa seria evitada, se fossemos menos egoístas, mais humanos e solidários, se usássemos a frase "FAÇA AO OUTRO O QUE VC QUER QUE TE FAÇAM", tudo seria tão diferente.
    Haveria mais fiscalização, pq os "poderosos" não iriam desamparar os menos favorecidos, pq eles n gostariam de ser desamparados, haveria uma melhor estrutura para se ter uma casa, pq todos estariam pensando a mesma coisa, eu quero uma casa, assim sendo o outro tb, e o outro, e o outro.
    O lixo não seria jogado nas ruas, rios, encostas, bueiros, pq se eu não quero pra mim, nao farei para o outro.
    Deus nos deu o direito de escolher sim, o que nos esquecemos é que toda e qualquer escolha tem consequencias, e devemos arcar com todas elas.

    MI ...
    MAIS UMA VEZ VC SE SUPEROU.
    LEMBRA QUE EU DISSE, QUE VC É UMA MISTURA DE MENINA E MULHER, QUE ME FASCINA?!?!
    ENTÃO ... AQUI VC PROVA ISSO

    BJS

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